REEDITANDO: L’ennemi Intime (‘Na Mira do Inimigo’, 2007)

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Subitamente alguém pode imaginar: com tanta produção cinematográfica que já foi realizada sobre guerras, por quê se preocupar com mais uma? Ou o cinéfilo é um verdadeiro fã de filmes bélicos ou mesmo é aquele que assiste a tudo. Ainda pode haver algo que fuja dos clichês que geralmente assolam um gênero para fugir à essa regra e despertar a atenção do espectador.

Para o filme de Florent-Emilio Siri, o que chama a atenção é mostrar uma guerra que pouco é comentada, isso tanto em produções artísticas como em segmentos da mídia – televisiva, impressa, etc. O assunto abordado é a guerra entre franceses e argelinos (sendo que alguns eram próprios franceses morando no país). Na década de 50, a Argélia, colônia da França, procura sua independência, para isso, cria uma força civil intitulada FNL. Como resposta à ação dos Argelinos, a França representando sua prepotência envia ao país africano 500 mil soldados para combatê-los. Neste caso, aqui conseguimos fugir da já saturada Segunda Guerra Mundial e Guerra do Vietnam (motes tão comuns dentro do gênero).

Daí em diante, criado o clima do filme, é montado o que já se esperava: país em caos, homens a um passo da insanidade, atos de violência/atrocidade, o soldado mais irascível em contradição ao mais tolerante, falta de misericórdia com míseras crianças e mulheres, perdas de valores, de culturas e de vidas. Ou seja, conforme já havia expressado, nada difere do universo de outras películas que tratam o tema.

O que exatamente vai acentuar neste filme francês é a bela fotografia que realça o ambiente caótico e nos transporta exatamente para 50 anos atrás. Um cenário composto por montanhas e vilas interioranas. Pouquíssimas locações e podemos comprovar que esse é um filme de baixo orçamento. Um tom cinza e marrom impera no filme, e quase não há realce de cores – por exemplo, sequer vi algo com tonalidade azul. Há poucos efeitos especiais na película e houve um trabalho maior com os diálogos entre os soldados.

As cenas de violência também não são gratuitas e não buscam mostrar carnificina à-toa, algumas vezes elas são mostradas até por meio de fotos. Quando corpos são vistos na tela, o diretor tenta usar mais o lado poético, dando ênfase, na verdade, aos próprios rostos agonizantes dos franceses pela atrocidade que acabaram de cometer. Um belo exemplo é visto numa cena em que uma bomba napalm deixa um rastro de corpos carbonizados, e os franceses com olhares de dor e alguns até passando mal, observam o local e os cadáveres.

É na construção dos personagens que o longa ganha pontos valorosos. Um belo exemplo é o idealista tenente Terrien que vem substituir um tenente que acabara de falecer. Um mero desenhista industrial que entra na guerra por pura opção do voluntariado. Logo ao chegar, o mesmo é indagado pelo Sargento Dougnac se exatamente era isso o que ele queria. Esses dois homens, de patentes distintas, é que trarão à tona a dualidade do filme. Melhor dizendo: Dougnac é um veterano de guerra (já havia participado de outros conflitos envolvendo a França), por sua vez, Terrien é aquele homem novato na guerra que tenta ser complacente e caridoso ao máximo, que lembra da família, para depois mudar de índole e aceitar o fato de que guerras não têm humanidade nenhuma. O humano que se torna animal.

Numa hora do filme, um soldado inimigo segura um cigarro no meio e queima suas duas pontas. Na verdade, uma metáfora mostrando que fazer parte de uma guerra é como não ter como escolher o lado; como não ter para qual caminho fugir. E no meio de soldados orgulhosos contando batalhas passadas e mostrando cicatrizes de 74 pontos; ninguém ganha com isso. Inclusive, a própria França perdeu muitos de seus homens não impedindo que a Argélia se tornasse independente em 1962. Para os franceses, coube aceitar o reconhecimento da guerra apenas em 1999. Fatos de uma potência mundial que não aceita que perdeu uma antiga conquista sua.

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